19 de mai. de 2007

Uma teoria sobre álbuns bons e uma resenha

Eu tinha uma “teoria” sobre álbuns legais. Era mais ou menos assim: existem dois tipos de álbuns bons, os que você ouve a primeira vez e acha super-cools e aqueles que você ouve, ouve, ouve e demora um pouco até conseguir entender que são legais.

Os álbuns de fácil audição são certinhos. Tudo o que têm de revolucionário é balanceado por coisas mais simples e “ouvíveis”. Geralmente depois de um tempo, o disco se torna chato e você se pergunta “POR QUE EU GASTEI VINTE PILAS COM ISSO?”. Aí você brinca de frisbee com ele e fica tudo OK.

E têm os hard-listening(?). Estes são (ou seriam) aqueles que você ouve dez vezes até achar razoáveis. Na décima segunda vez você vicia. Os álbuns do Radiohead ou os do Yo La Tengo exemplificam bem este tipo de disco.

Entenderam a teoria? Pois bem: tá errada.

...

Ontem eu andei dando uma pesquisada em álbuns do Kraftwerk e acabei baixando o Computerwelt. Eu já esperava uma coisa legal daquele pessoal. Tive o Autobahn antes da perda trágica de meus álbuns virtuais e gostava bastante do disco apesar de ter tido pouco ânimo para ouvir suas faixas longuíssimas repetidamente.

Mas o Computerwelt é bem diferente.

Começando pelo fato de que, ao contrário do Autobahn, o álbum é incrivelmente familiar. (Músicas eletrônicas são muito usadas na tevê. Quem diz que nunca ouviu Daft Punk, por exemplo, só não se lembra que ouviu: Technologic não cansava de tocar em algum comercial de celular até um dia desses). E é com esse "desgaste experimental" que as faixas do Kraftwerk chegam aos ouvintes que já cansaram de saborear coisas parecidas sem nem saber. Aquela impressão de que já se ouviu aquilo mil vezes - nas vidas passadas também - não me deixou de lado até o fim do disco (AH É! Eu ouvi o disco até o fim, sem me cansar nem um pouquinho, coisa que não acontece frequentemente com discos novos).

É um desafio falar alguma coisa sobre um disco conceitual e eletrônico, até porque seria ridículo sair falando coisas como “o sintetizador fez isso, o sintetizador fez aquilo”, mas vou tentar escrever um pouco sobre algumas faixas.

A primeira, Computerwelt, é uma faixa meio obscura e fermatada. Dá para ter uma base de como o disco vai seguir através dela. Provavelmente todas as outras faixas seguem uma freqüência bem similar também. A segunda faixa, Taschenrechner, usa notinhas saltitantes (lembra um pouco a Make Love, do álbum novo do Daft Punk), mas mesmo assim, as BPM continuam iguaizinhas (não tenho como comprovar essa teoria das batidas por minuto, mas tudo bem). Se eu tivesse uma rede de televisão, definitivamente a usaria para vinhetas do tipo “Você está assistindo...”.

O disco segue sempre com o mesmo conceito - por isso o CONCEITUAL, dã. Avançando um pouco, Computer Liebe, a quinta faixa, é de onde o Coldplay tirou o riff para a música Talk, do X&Y – fiquei louco quando ouvi! É uma das faixas mais agradáveis. O disco encerra com It's More Fun to Compute, que me lembra um pouco a Truth do New Order.

Não tem nada de revolucionário, o álbum, eu já disse, é todo igualzinho, parece mais uma música só dividida em várias partes. Mas mesmo assim, eu tenho a impressão de que ele seja um álbum de fácil audição que vai demorar a sair do meu player.

Qual é o porquê do troço ser tão bom?

Não sei. Só o Kraftwerk pode responder.

(A resenha também foi postada em meu last.fm.)

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